segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Hiperfocal?? Troca-me lá isso por míudos...

É normal. Quando entramos no mundo da fotografia, alguns palavrões assustam. Este é normalmente um daqueles de que ninguém quer saber, até perceber para que serve.

Penedo da Saudade - S. Pedro de Moel, Marinha Grande, Portugal
Canon 5D Mark II, EF 17-40 F4L, ISO 100 F16 a 1/4s


O que é a focagem hiperfocal?


Por definição, a hiperfocal é a distância para além da qual todos os objectos se encontram dentro de uma focagem “aceitável”para uma determinada abertura e distância focal. Está intimamente relacionada com a fotografia de paisagem. É um processo no qual se pretende aumentar ao máximo a profundidade de campo garantindo que a imagem final se encontre totalmente focada, desde o primeiro plano até ao infinito.

A profundidade de campo não muda de focado para desfocado de uma maneira abrupta. Ela acontece gradualmente imediatamente a seguir ou antes do ponto onde focamos. Como não há uma zona crítica onde essa transição seja perceptível, usa-se o termo círculo de confusão para entender o quão grande um ponto precisa de ficar para ser entendido como desfocado.

Círculos de confusão

Em fotografia, o diâmetro de um círculo de confusão é a maior mancha possível (mesmo que esteja fora de foco) que o olho humano entende como um ponto. De um modo geral, se uma imagem for visualizada a uma distância de 25cm, o círculo de confusão terá um diâmetro de 0,2mm. Sendo assim, e como todas as objectivas reproduzem todas as imagens como pontos, todos os pontos com um diâmetro inferior a 0,2mm representam uma zona da imagem focada.


Usando uma grande abertura, os objectos que se encontram dentro da distância focal são projectados em zonas diferentes do sensor. Como consequência, o círculo de confusão é maior levando-nos a entender essa zona como desfocada.

Usando uma pequena abertura, a incidência dos raios de luz no sensor já se faz mais próximo da zona do ponto de focagem, reduzindo assim os círculos de confusão e aproximando os vários elementos que se encontram dentro da distância focal, de uma focagem aceitável.

Concluímos assim que quanto menores forem os círculos de confusão, maior a profundidade de campo. À medida que estes círculos de confusão aumentam de tamanho, os seus contornos ficam menos definidos, resultando em zonas difusas e fora de foco.

Se relacionarmos abertura com profundidade de campo, todos nós aprendemos que quanto mais fechado estiver o diafragma (f16 ou f22), mais profundidade de campo obtemos. Isto é absolutamente correcto em fotografia de paisagem diurna mas em fotografia nocturna a história é diferente. O uso de aberturas pequenas é impraticável devido aos longos tempos de exposição que seriam necessários. O uso da focagem hiperfocal torna-se quase obrigatório de modo a podermos usar uma grande abertura (f4 ou f5.6) e mantermos tudo em foco.

Tenha em atenção que a hiperfocal só deverá ser usada quando existem elementos no 1º plano. Se os objectos mais próximos estiverem a 10-15 metros, use a focagem ao infinito ou foque a 1/3 do plano dependendo do efeito que quiser obter.

Na prática

Uma das leis da óptica diz que a profundidade de campo se estende 1/3 à frente do ponto de focagem e 2/3 atrás deste. Vejamos os seguintes exemplos:


Focando no sujeito, de 1/3 até ao infinito temos tudo em foco mas mantemos o 1º plano fora de foco e fora da profundidade de campo.

Se focarmos ao infinito, ainda tornamos o caso pior. Não só ficamos com o 1º plano desfocado mas também o sujeito.



Ao focarmos no primeiro plano, fazemos com que os objectos mais distantes fiquem fora de foco.


A única maneira de manter todos os elementos focados é usando as distâncias hiperfocais. Dessa maneira conseguimos que o 1º plano, sujeito e infinito fiquem focados.

Então a que distância e como focar?

O uso da focagem hiperfocal pode ser efectuado de 2 maneiras:

1 – Em lentes de foco fixo, a maior parte dos fabricantes imprime uma escala de distâncias hiperfocais na lente para as diferentes aberturas.
Consoante a abertura usada, por ex. f16, basta colocar a marca 16 à direita, debaixo da marca de focagem ao
infinito. A marca 16 do lado esquerdo vai indicar a distância mínima a que estamos a focar. O mesmo acontece para as outras aberturas. O truque aqui é que nem precisamos de ver o que estamos a focar para que a focagem fique correcta. Se olhar pela ocular da câmara, verá que tudo lhe parece fora de foco. Use o botão de previsão de profundidade de campo para prever o resultado final.

2 – Em lentes zoom, a escala impressa nas lentes refere apenas a distância de focagem e não a abertura, isto porque a profundidade de campo depende da distância focal. Numa lente zoom, esta distância é variável e como as hiperfocais não dependem só da abertura mas também da distância focal, isto seria impraticável. Por esse motivo, são usadas tabelas de hiperfocal de acordo com a abertura e distância focal pretendida. Recorrendo à tabela de hiperfocal, e sabendo de antemão qual a abertura e distância focal que vamos utilizar, verificamos na tabela qual a distância de focagem indicada. Para isso é conveniente ter uma correcta percepção das distâncias. Seleccione o ponto indicado pela distância e depois foque ou através da ocular ou através do ecrã LCD. Use o botão de previsão de profundidade de campo para verificar a focagem.


Number 8
- Parque eólico da Falca, Alcobaça, Portugal
Canon 5D Mark II, EF 17-40 F4L, F5.6 a ISO 200, 4 min. de exposição
Focada no último degrau da escada


Não se esqueça que as distâncias são diferentes caso use uma câmara full frame ou com factor crop. Use as seguintes tabelas de acordo com o factor crop da sua câmara. Tabelas com outros factores crop podem ser vistas aqui. Tenha em atenção que o valor indicado na tabela é a distância a que deve focar. A profundidade de campo resultante está compreendida desde metade dessa distância até ao infinito. Como exemplo, se estiver a usar uma câmara full frame e uma distância focal de 24mm a f16, deverá focar a uma distância de 1,22m pelo que a profundidade de campo resultante está compreendida entre 0,61m e o infinito.

Use a focagem hiperfocal apenas quando necessário. É comum ser usada em fotografia de paisagem e apenas quando existem elementos muito próximos que queremos que fiquem focados. Não se esqueça que a hiperfocagem não serve para tudo. Há por vezes elementos numa foto que queremos que fiquem mais focados que outros. Pratique! A prática leva à perfeição!